A busca por mais corpos na penitenciária estadual de
Alcaçuz, em Nísea Floresta, Rio Grande do Norte, esbarra em um obstáculo
invisível às câmeras da imprensa que, desde o massacre de 26 presos na semana
passada, vigiam diariamente a unidade. São as 40 fossas de 18 metros cúbicos
espalhadas pela área do presídio. Até mesmo procurar
Na primeira operação depois do massacre, 15 corpos foram
resgatados sem cabeça e duas cabeças sem corpo. Identificadas as combinações
entre as partes, restaram 13 mortos a serem completados. Ontem (21), o ITEP
recolheu mais duas – uma delas incompleta – e um fragmento de crânio já em
estado avançado de decomposição. O material será analisado para saber se
correspondem a algum dos cadáveres já recolhidos ou se seriam de mortos ainda
não contabilizados. Com o resultado positivo restariam ainda 11 cabeças a serem
encontradas. Facções rivais disputam o controle do presídio.
Hoje (22), o diretor do presídio informou ao diretor do Itep
que os presos apontaram uma fossa onde estaria mais uma delas. Ainda se espera
a confirmação do local para que seja feita uma nova operação de resgate. No
entanto, a grande quantidade de fossas e o tamanho delas, segundo Marcos
Brandão, vai dificultar esse tipo de trabalho, a ponto de tornar provável que
algumas cabeças fiquem para sempre debaixo daquele solo.
“São fossas muito
grandes, 18 metros cúbicos, e são muitas. Demorou um dia inteiro só para
esgotar uma delas. Lógico que as buscas vão continuar, mas acredito que não
vamos achar todas. Em regra, nas fossas existe a parte líquida, mas tem a parte
de lama que fica embaixo e não dá para tirar. E a cabeça em decomposição começa
a soltar osso e fica muito difícil achar”, explica Brandão. “A gente tem que
trabalhar com isso em mente”.
Atualmente existem quatro corpos dos 26 mortos no massacre
do dia 14 de janeiro que ainda não foram identificados. Três deles, de presos
que foram carbonizados, precisam de exames mais complexos. Caso as cabeças não
sejam encontradas, as famílias vão receber os corpos assim mesmo. “É como em um
acidente aéreo, que às vezes só se entrega uma mão”, compara. “Pelo menos vai
haver a identificação de que houve a morte, que isso é importante”. O prazo
legal para manter os cadáveres no Itep é de 45 dias, ou até que as buscas sejam
encerradas.
Na avaliação de Brandão, é pouco provável que existam mais
cadáveres ainda no interior do presídio, pois a área onde poderiam estar foi
mapeada e analisada e nada foi encontrado. A vistoria, no entanto, só pôde ser
feita nos prédios onde não há presos, já que os detentos controlam alguns
pavilhões.
O diretor do Itep disse ainda que foram identificadas várias
fogueiras na área. “Ainda vamos examinar se nessas fogueiras há algum material
humano, porque lá realmente não deu para verificar. Mas elas foram feitas com
muito combustível inflamável que tiraram da fábrica de bolas que tinha no
presídio, solventes, essas coisas. Recolhemos um material que vamos analisar
para saber se é corpo, mas não foi uma quantidade substancial. Se tiverem
queimado pode ter sido um. Mas isso a gente ainda vai analisar, não estou
dizendo nada conclusivo”, disse.
Ossos antigos
Na operação de ontem também foram encontrados fragmentos de
ossos na fossa. Esse material, no entanto, não continha restos humanos, o que
indica, de acordo com o diretor do Itep, que eles podem ser provenientes de uma
rebelião anterior.
agenciabrasil
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