Brasil está na mira de ataques do Estado Islâmico, revelam
investigações da ABIN
A possibilidade de ameaça terrorista no Brasil tomou fôlego
novamente esta semana depois que a Abin (Agência Brasileira de Inteligência)
confirmou a autenticidade de um perfil e de uma mensagem postada em novembro do
ano passado.
Um suposto integrante do Estado Islâmico postou no Twitter
uma ameaça ao país.
A mensagem “Brasil, vocês são nosso próximo alvo” foi
postada em novembro do ano passado pelo francês Maxime Hauchard, logo após os atentados
que deixaram 129 mortos e dezenas de feridos, na França, mas só nessa
quarta-feira (13) a Abin confirmou a informação.
Embora alguns poucos sites tenham divulgado a existência da
mensagem já à época, como o da rádio francesa Tendance Ouest, no Brasil o
assunto só foi tornado público na quarta, após o diretor do Departamento de
Contraterrorismo da Abin, Luiz Alberto Sallaberry, confirmar as suspeitas.
Ao proferir palestra na Feira Internacional de Segurança
Pública e Corporativa, em São Paulo, Sallaberry falou sobre as estratégias do
Estado Islâmico para recrutar seguidores e ordenar atentados pelas redes
sociais.
Conhecido como “o carrasco”, o francês Maxime Hauchard é
suspeito de ser um dos terroristas que aparecem em vídeos que exibem a
decapitação de pessoas sequestradas ou feitas prisioneiras pelo grupo
terrorista, sobretudo soldados sírios.
Os sites que primeiro divulgaram a informação, logo após a
mensagem ter sido postada, observaram que o usuário havia criado o perfil pouco
tempo antes dos ataques à França. Atualmente, a conta está desativada.
Jogos olímpicos
A Abin também publicou um relatório nesta quarta que
determina o potencial de ameaça terrorista durante a passagem da tocha olímpica
por 300 cidades brasileiras. Cada uma destas cidades recebeu uma classificação
de sensibilidade ao risco terroristas em três categorias: alto, médio e baixo.
Além disto, há uma tabela específica com as ameaças em potencial em cada
cidade.
O relatório foi desenvolvido de acordo com o registro de
fontes de ameaça no local e a tendência delas atuarem ou não durante o evento,
informou a Abin em comunicado à imprensa.
Ainda segundo a agência, a participação de um grande número
de pessoas e a passagem por centenas de municípios foram considerados fatores
que trazem desafios à segurança do revezamento da Tocha Olímpica no Brasil.
Monitoramento de suspeitos
A revelação feita pela Abin tem sido, nos últimos anos, uma
preocupação real. A reportagem do UOL apurou que tanto a Polícia Federal como a
Abin monitora um número desconhecido, mas relevante, de pessoas com suspeitas
de vínculos com as organizações terroristas Al Qaeda e Estado Islâmico.
Segundo agentes ouvidos na condição de anonimato, o que
antes era um monitoramento de pessoas que usavam o país como refúgio ou davam
apoio financeiro a estes grupos, passou a ser uma preocupação mais intensa em
função dos chamados “lobos solitários”, ou seja, pessoas que não estão
diretamente ligada a grupos extremistas, mas são simpáticos a causa e podem
agir de forma isolada.
“Não dá para saber até que ponto estas pessoas possam se
radicalizar. Nós achávamos que a Al Qaeda era o fim do mundo, mas agora com
estes atentados em Paris, a possibilidade de um indivíduo conseguir um AK-47
num Paraguai da vida, ou num morro da vida e sair atirando em gente é uma coisa
que foge da simples capacidade de monitoramento”, diz o oficial de inteligência
da Abin Edmar Furquim.
Mesmo diante deste cenário, agentes também enfatizam que um
ato extremo ainda é uma possibilidade remota no país, mas a simples existência
de suspeitos deve ser motivo de preocupação e de alerta constante. O trabalho
de monitoramento de suspeitos é intenso e atualmente conta com apoio de
diversos órgãos de inteligência internacionais como a CIA, o serviço secreto
americano e a MOSSAD, o serviço secreto israelense.
“Ao menos 30 agências de inteligência mantém operações em
território brasileiro e outras 90 integram uma rede de troca de informações da
qual o Brasil faz parte”, afirma Furquim. Para o período das Olimpíadas, mais
de 110 agências de inteligência estarão instaladas no Rio de Janeiro.
Este trabalho abastece uma rede de informações que permite,
por exemplo, que tanto Polícia Federal como Abin acompanhem a passagem de
imigrantes suspeitos pelo Brasil ou incluam pessoas em uma lista de
monitoramento constante.
Um exemplo deste tipo de monitoramento foi o caso divulgado
pela revista Época do físico francês Adlène Hicheur, que era professor na UFRJ
(Universidade Federal do Rio de Janeiro) e foi preso e condenado em 2009 na
França sob a acusação de planejar atentados terroristas.
Hicheur foi indicado para monitoramento por uma destas
agências e ganhou a atenção da Polícia Federal que, segundo o UOL apurou,
avalia que o físico é um homem suspeito e sua presença no Brasil incomoda,
principalmente por seu histórico de envolvimento com planejamento de atos de
terror combinado com sua inteligência e sua área de atuação –física nuclear.
Agência Brasil