Dilma: impeachment é motivado pela escolha do governo de
gastar com os pobres
Mariana Jungmann - Repórter da Agência Brasil
Palmas - Presidenta Dilma Rousseff durante inauguração da
sede da Embrapa Pesca e Aquicultura Roberto Stuckert Filho/PR
A presidenta Dilma Rousseff voltou hoje (14) a afirmar que o
processo de impeachment contra ela é uma tentativa de golpe e disse que vai
“resistir até o fim”. Durante cerimônia de inauguração da Embrapa Pesca e
Aquicultura, em Palmas (TO), a presidenta destacou que o pedido de afastamento
é motivado pelo fato de ela ter escolhido gastar o dinheiro do governo com os
mais pobres.
“Nós fizemos escolhas porque o dinheiro é finito, então,
você tem de escolher onde gastar. Nós escolhemos ampliar o gasto na
agricultura, na produção e nos programas sociais. Na área da agricultura
familiar e assentamentos, nós saímos de menos de R$ 2,5 bilhões para R$ 30
bilhões. Na agricultura comercial, nós saímos de menos de R$ 25 bilhões para R$
202 bilhões [de estímulos econômicos]. Nós fizemos, de fato, uma escolha
diferente da dos nossos antecessores”, afirmou.
Para a presidenta o que está ocorrendo no país, “mais que um
golpe, é uma tentativa clara de fazer uma eleição indireta para colocar no
governo quem não tem voto suficiente para lá chegar”. Segundo ela, o novo
governo que será formado, caso ela seja afastada, pretende reduzir o Bolsa
Família aos 5% mais pobres do país, o que significa 10 milhões de pessoas.
Atualmente, o programa atende a 46 milhões de brasileiros.
“O foco é tirar do Bolsa Família 36 milhões de pessoas. Isso
porque eles sabem que o gasto do Bolsa Família é de menos de 1% do PIB, um dos
menores do país. E aí querem fazer economia com o dinheiro dos pobres? Jamais
se elegeriam”, afirmou.
Dilma também voltou a dizer que é honesta, não tem contas no
exterior nem recebeu dinheiro de propina. Para ela, como não era possível
apontá-la como criminosa por isso, tentam criar um fato em torno da edição de
decretos que “todos os outros governos também fizeram”.
“São decretos que dão recursos para o Tribunal Superior
Eleitoral fazer concurso, para o Ministério da Educação pagar hospitais, para o
Ministério da Justiça complementar recursos para escoltas. Não são recursos que
a presidência pegou para ela”, disse.
Ela também voltou a alegar que não participou das definições
sobre o Plano Safra em 2015 porque a lei determina que isso seja feito pelo
ministro da Fazenda. “Ora, o que está em questão são atos que eu sequer
participei. Todos atos que são regulares, mas além disso eu não estive em
nenhum deles”, disse.
No discurso, a presidenta disse ainda que o novo governo não
terá condição de “quebrar” todos os seus programas, mas alertou o público
presente de que “eles vão tentar”. Ela conclamou as pessoas a lutarem pelos
seus direitos. “Nós todos temos que lutar para que não haja retrocesso. Eu
tenho de lutar contra o impeachment, e vocês tem que defender o interesse de
vocês. Nós temos que lutar pela democracia”, disse.
Ex-ministros
Antes da fala da presidenta Dilma em Palmas, a ministra da
Agricultura, Kátia Abreu, também discursou e voltou a defender o governo. Após
declarar que se sente orgulhosa da presidenta Dilma, Kátia Abreu repreendeu os
ex-ministros deste governo que votaram a favor da continuidade do processo de
impeachment na Comissão Especial do Senado e os acusou de traidores.
“Esses políticos que até ontem eram ministros de vossa
excelência, que foram ministros durante cinco anos do seu governo, agora lhe
viram as costas, lhe enfiam a faca pelas costas. Mas antes usufruíram do seu
mandato”, disse a ministra.
A ministra concluiu o discurso citando a frase “não toque os
pés no barco que te ajudou a atravessar o rio”, numa referência ao que ela
considerou uma “deslealdade” com a presidenta.